Padre Matheus Van Herkuizen

Matheus Van Herkuizen
Filho do casal Cornelis Hendrikus e Ardina Schraven, o Padre Matheus Van
Herkuizen nasceu na Holanda, aos 5 de julho de 1915, na antiga e pequena cidade
imperial de Nimegue, na Província da Guéldria, localizada no centro-oeste do país e muito
próxima da fronteira com a Alemanha. Foi batizado no mesmo dia do seu nascimento com
o nome de Petrus Canisius Van Herkhuizen.
Na companhia dos seus outros dois irmãos, Canisius e Estefanus, o Padre
Matheus foi sempre educado na fé cristã católica. Foi crismado aos 09 anos no dia 26 de
junho de 1924 e fez seus estudos primários normais sob a orientação dos seus pais.
Aos 12 anos, cativado pela vida fraterna dos Padres Assuncionistas e sentindo o
desejo de consagrar-se a Deus na Vida Religiosa, entrou para a Escola Apostólica Santa
Terezinha em Boxtel, onde prosseguiu os estudos secundários, nos anos de 1927 a 1933.
Terminados os estudos secundários, ele foi admitido no Noviciado dos
Assuncionistas em Taintegnies, na Bélgica, tomando o hábito religioso no dia 01 de
outubro de 1933. Acompanhado pelo seu mestre de noviços, o Pe. Romanus Declercq,
viveu o ano de iniciação nos princípios da Vida Religiosa e neste período não lhe faltaram
provações.

A mais forte provação vem exemplificada no relatório do mestre de noviços ao
superior provincial, à época. Afirma: “Este religioso ainda é jovem. Seu caráter tem sido
fonte de muitos períodos difíceis, especialmente no contato com o ex-Irmão Thaddeus,
cuja influência foi negativa para ele. Mas o Irmão Matheus não carece de recursos: ele é
um religioso muito dedicado e muito cuidadoso. Ele hesitou um pouco durante sua
vocação, tendo me pedido para sair e voltar para o mundo em julho de 1934. Depois
desta provação, ele recuperou a confiança e agora pensa poder suportar o jugo da vida
religiosa. Mesmo que seja um pouco tarde, acredito que podemos confiar em sua
absoluta sinceridade”.
O jovem Petrus, então, com apenas 19 anos professou os votos de castidade,
pobreza e obediência no dia 02 de outubro de 1934 sob o nome religioso de Irmão
Matheus.
O agora Irmão Matheus prossegue sua formação religiosa frequentando o curso de
filosofia em Saint Gérard (1934-1937). Se apresenta como uma pessoa simples, de
espírito sério e sobrenatural, de caráter franco, dedicado nos estudos, menos
especulativo do que prático. Tinha atração e dinamismo para as coisas de ordem mais
prática.
Com o transcurso do tempo, a vocação do jovem Irmão Matheus vai ganhando
consistência. Ele experimenta a alegria da consagração a Deus na Vida Religiosa
Consagrada, sentindo-se cada vez mais confirmado neste estado de vida para trabalhar
pela vinda do Reino de Deus: Adveniat Regnum Tuum. Assim, com maturidade humana
e espiritual, professa os Votos Perpétuos no dia 02 de outubro de 1937, e parte para
Louvaina (1938) e depois Bergeyk (1939-1942), na Bélgica, para prosseguir os estudos
de teologia.
Concluído o período formativo acadêmico, o Irmão Matheus recebe as ordens
menores (acolitato, sub-diaconato e diaconato) e, após um tempo de estágio neste
ministério, foi ordenado sacerdote no dia 31 de maio de 1942 por Dom Theodorus Van
Roosmalen, C.SS.R 1 . Cheio de entusiasmo e inquieto para servir a Igreja, através da sua
Congregação, desejava partir em missão pelo mundo afora. Entretanto, o clima da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945) tardava o seu sonho, o que não lhe influenciou o

1 Missionário redentorista, nomeado vigário apostólico da Guiana holandesa-Suriname e bispo Titular de
Antigonië. O bispo holandês viveu alguns anos em missão no estado de Minas Gerais (1904-1911),
particularmente em Curvelo e em Juiz de Fora. Cf. https://nl.wikipedia.org/wiki/Theodorus_van_Roosmalen.
Acesso em 15/02/2019.

ânimo. Pelo contrário, inspirando-se em Nossa Senhora, com quem mantinha um forte
vínculo pessoal, se mantinha aberto à vontade de Deus para sua vida participando
assiduamente de alguns cursos para missionários em Louvaina e Nimegue.
Em 1946, chegou da Holanda a primeira turma de missionários pós-guerra no
Brasil. Até então, haviam no Brasil apenas duas fundações em dois estados diferentes:
em Minas Gerais, a Paróquia São José de Além Paraíba-MG, e em São Paulo, o
Seminário diocesano de Rio Preto-SP. A obra das vocações necessitava de mais
colaboradores e, por esta razão, apenas dois dos sete novatos foram para Além Paraíba,
Aloísio Roy e Antônio Homan. Os outros cinco religiosos ficaram no Seminário de Rio
Preto: Arthur Horsthuis 2 , Dionísio Cornelisse, Ludgero Soutberg, Walter Pasmans e o
Matheus Van Herkhuizen.
A primeira etapa da história do Padre Matheus em terras brasileiras (1946-1953)
transcorreu, na verdade, em duas cidades diferentes: em São José do Rio Preto-SP onde,
colaborando de vários modos com a “Obra das Vocações”, atuou também como professor
no seminário menor diocesano, e em Fernandópolis-SP, onde trabalhou auxiliando
pastoralmente o seu irmão biológico Padre Canisius na Paróquia Santa Rita de Cássia e
imediações.
O dinamismo dessa experiência foi interrompido quando os seus superiores da
Província da Bélgica pediram a sua transferência e o nomearam para a missão do Zaire
(então colônia belga e atualmente, desde 1997, República Democrática do Congo), onde
ele trabalhou alegre e incansavelmente durante oito anos (1953-1961), na companhia do
seu consanguíneo, o Irmão Estêvão Van Herkhuizen, então radicado no país há 17 anos
(1936-1960) e que também veio para Pinhal (1961-1986) e aqui se tornou conhecido
como o “Irmão barbudo” por este seu traço fisionômico sobressalente.
Alarmados pela situação sócio-política no Congo, que se fazia ainda mais
complexa na perspectiva da revolução, que mais tarde se daria, o Padre Matheus retorna
à Holanda para um período curto de férias e daí retorna ao Brasil a fim de ajudar o seu
irmão Padre Canisius que passava por um momento de crise. Depois que o Padre
Canisius decidiu incardinar-se na Diocese de Jundiaí (1968-1972), onde foi nomeado
vigário e depois o primeiro pároco da Paróquia Senhor Bom Jesus, no Bairro Caxambu, o
Padre Matheus passa a colaborar com a formação dos estudantes no Seminário Nossa
2 Padre assuncionista, holandês, nomeado primeiro bispo diocesano de Jales em Fevereiro de 1960, pelo
Papa João XXIII. Foi ordenado em São Paulo, na Capela do Colégio da Assunção, na Alameda Lorena, no
dia 29 de Junho de 1960 e tomou posse da nova Diocese no dia 15 de Agosto de 1960.

Senhora da Assunção em Pinhal e a se ocupar efetivamente do ministério pastoral da
Paróquia do Divino Espírito Santo e outras comunidades eclesiais nas imediações.
Dos três irmãos inseparáveis, por afeição familiar e laços espirituais, sobressaiu-se
a figura do Padre Matheus pela singularidade de sua personalidade e carisma apostólico.
O missionário se dedicava de corpo e alma, na celebração dos sacramentos, no
atendimento aos mais pobres e marginalizados, na visita aos enfermos, na orientação
espiritual dos fiéis, no discernimento vocacional de jovens, no acompanhamento de
casais, na atenção cuidadosa dos afazeres práticos da residência paroquial, da Igreja
Matriz e do Seminário.
Mas, sua vida religiosa tão fecunda e seu ministério sacerdotal tão intenso foram
brutalmente interrompidos por um infarto na manhã do dia 15 de abril de 1973, Domingo
de Ramos, quando toda a comunidade eclesial se preparava para celebrar o Mistério da
morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aquela Semana Santa foi particular
na cidade!
Naquela época, segundo as leis municipais vigentes, o Padre Matheus deveria ser
sepultado na tarde do mesmo dia, mas, Dom Tomás Vaquero, então bispo de São João
da Boa Vista-SP, interveio junto às autoridades e o Padre Matheus foi enterrado no dia
seguinte. Dado o seu prestígio e reputação entre os cidadãos e fiéis pinhalenses, o
Prefeito Municipal Sr. Hélio Vergueiro Leite decretou luto oficial. Dom Tomás presidiu as
exéquias e toda a população seguiu o féretro, em procissão, até o cemitério dos
assuncionistas, distante 3 km do centro da cidade onde se encontrava a Igreja Matriz do
Divino Espírito Santo e Nossa Senhora das Dores.
Do Padre Matheus, restam muitas memórias e sua fama de santidade. Alguns dos
que o conheceram se encontram vivos e dão testemunho dele. Seja no Congo ou no
Brasil, ele é evocado como um religioso zeloso, fraterno, bondoso, respeitoso dos mais
pobres e humildes, amigo das famílias. Em Espírito Santo do Pinhal-SP, especialmente, a
importante avenida que testemunhou o seu cortejo leva o seu nome e a frequência dos
fiéis e devotos ao seu túmulo, desde o seu falecimento, com flores e placas de
agradecimento, exprime as numerosas graças alcançadas por sua intercessão.
Desde o dia 15 de agosto de 2016, na solenidade da Assunção de Nossa Senhora,
todo dia 15 do mês se celebra a missa em sua memória, para mais ou menos uma
centena de pessoas, na Capela do antigo Seminário. Sua devoção cresce e ele vai sendo
dado a conhecer às novas gerações. Em torno de Padre Matheus van Herkhuizen há um

processo de construção devocional que encontramos na memória daqueles que o
conheceram e nas graças alcançadas por aqueles que não o conheceram em vida, mas o
conhecem como intercessor. E nesta perspectiva aparece a trajetória de um homem de
viveu a prática fervorosa da fé, uma pessoa que começou sua vida missionária em seu
país natal, a Holanda, mas que sabia que sua fé não o deixaria restrito aos limites dos
países baixos.
Jesus Cristo o levou à máxima relatada no evangelho Marcos (16,15): “E disse-
lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”. A resposta de Padre
Matheus Van Herkhuizen foi – Amém! – seja da Holanda ao Congo, seja do Congo ao
Brasil.
As barreiras linguísticas não foram empecilho para que o querido Padre Matheus
pregasse o Evangelho de Jesus Cristo, pois, mais que palavras proferidas por Padre
Matheus estão nas narrativas de seus amigos pinhalenses, pessoas que tiveram o
privilégio de conhecer sua pessoa e as ações de fé deste homem que viveu o modelo de
vida de Jesus Cristo: a humildade e a caridade.
Enfim, convém reiterar, em torno desse modelo de humildade e caridade
genuinamente cristã é que natural e espontaneamente se produz um processo devocional
ao Padre Matheus, pois, aqueles que não o conheceram pessoalmente, igualmente
depositam nele sua confiança e por isso o elegeram como seu intercessor junto a Deus
nosso Pai e a seu filho Jesus Cristo. Feito o Cristo, “unido ao Pai” (Jo 8,29), o Padre
Matheus “passou pelo mundo fazendo o bem” (At 10,38) e com aquela disposição de
ânimo que tão bem traduzia o seu lema de vida: “Com júbilo, tudo vos dou”.

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